segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A CRISE GERAL DOS PARADIGMAS DISSENSUAIS DA SOCIOLOGIA

A CRISE GERAL DOS PARADIGMAS DISSENSUAIS DA SOCIOLOGIA

Aluizio Alves Filho**
Fonte: Achegas.net


1. A crise estrutural


Crise e dissenso são as características mais marcantes da maneira pela qual a Sociologia produz e reproduz teorias e explicações. Mal nascera, e já em 1895 um certo Ferdinand Brumetière, pretendendo por abaixo os fundamentos positivistas que alicerçavam o novo saber, publicou na influente Revue de Deux Mondes, em Paris, o artigo La Banqueroute de la Science [1] . Cerca de meio século mais tarde, em 1947, tendo em vista a grande quantidade de teorias, métodos e técnicas de investigação sociológica existentes, o físico Henri Poincaré referir-se-ia a Sociologia como “ciência que possui mais métodos e menos resultados” [2] . Nas décadas que se seguiram ao comentário de Poincaré surgiram muitas novas teorias, métodos e técnicas de investigação sociológica, assim como substantivo número de críticas quanto à eficácia do saber sociológico.


Em contraste com as Ciências Naturais que, uma vez constituídas como saberes específicos encontraram – quanto a princípios, métodos e problemas – um forte grau de consenso entre seus cultores, o métier sociológico mais parece uma Torre de Babel, tantas são as desavenças.


As primeiras tentativas de fazer do “social” objeto de reflexão científica (sociológica) remontam ao século XIX e são produto do trabalho isolado de diversos estudiosos que, ao procurar respostas para os imbricados problemas colocados pela revolução industrial, foram elaborando instrumental analítico julgado por cada um deles como adequado para examinar e compreender a complexa realidade nascente. Instrumental que, como um todo, implicou em uma constante ruptura com os padrões abstratos e especulativos característicos das filosofias então em voga. Em oposição ao ocorrido com as Ciências Naturais, o dissenso foi o traço estrutural que acompanhou a constituição e posterior desdobramento do saber dito sociológico, como bem ilustra o fato de mesmo após século e meio de formação da Sociologia não haver consenso entre sociólogos, nem quanto às teorias e métodos que devem ser empregados nas investigações de situações concretas, nem a respeito de que problemas devam ser priorizados para investigação. Entre outros, o problema da objetividade versus subjetividade atua como um fantasma a atormentar os sociólogos em suas constantes tentativas de produzir conhecimentos reconhecidos como científicos, pois, contrastando com os cientistas naturais, sequer são dos mesmos pressupostos que os sociólogos partem. A respeito, Coulson e Riddell – apoiados em texto de Raymond Aron – observam:

“No mundo inteiro, as pessoas que começam a aprender física ou qualquer outra das ciências naturais, estarão aprendendo praticamente as mesmas espécies de coisa. Os mesmos conjuntos de proposições básicas serão aprendidos, no Japão ou na Rússia, na China e no Peru. Mas essa verdade não se aplica à Sociologia. O estudante na Rússia não principiará com as mesmas proposições sobre a sociedade, e sobre a relação dos homens com ela, que os estudantes nos Estados Unidos. O estudante inglês e o iugoslavo não estarão aprendendo os mesmos tipos de proposições para iniciar seus estudos. Mais do que isso, mesmo dentro de um país, a abordagem que um estudante verifica lhe estarem ensinado varia, num grau considerável, segundo as opiniões particulares de seu professor ou seu departamento”. [3]

Tal fato se dá porque a natureza “acontece” da mesma forma em toda parte, sendo, em decorrência, bem consensuais os postulados das Ciências que a estudam. Por outro lado, ao estudar fenômenos sociais os homens partem, inevitavelmente, de um certo universo de pressupostos que variam em função das características da sociedade a qual pertence, de padrões culturais e de tomada de posição política-ideológica peculiar.

Tamanho é o dissenso em Sociologia, que ao menos existe acordo em torno de qual seja o seu objeto de estudo. Julgamos que uma breve comparação entre o objeto de estudo de duas escolas clássicas, será suficiente para ilustrar aquilo que estamos afirmando.



Aqueles que tomam a obra de Émile Durkheim como ponto de referência fazem do fato social o objeto de estudo sociológico, enquanto que os tomam a obra de Max Weber, por ponto de referência fazem da ação social o objeto de tal estudo. De uma forma algo esquemática podemos dizer que no primeiro caso a ênfase sociológica recai na estrutura, pois os fatos sociais – segundo Durkheim – têm por características definidoras a exterioridade e a coercitividade, constituindo-se em realidades objetivas que, “pairam” sobre as consciências individuais. São com os fatos assim considerados que Durkheim constrói o objeto de estudo de uma ciência original – a Sociologia – cujo domínio não se confunde com o da Psicologia ou o da Biologia, nem com o de nenhuma outra ciência [4] . No segundo caso, o da ação social como objeto de estudo sociológico, a ênfase da construção do objeto recai nos indivíduos (atores sociais) que dotados de vontade própria e movidos por interesses subjetivos são tomados como sujeitos da história. História pensada como não determinada, produto de interação de “N” vontades individuais; história sempre imprevisível não sujeita a leis universais, como são às leis das ciências naturais.

No primeiro caso, onde o social é tido como fenômeno objetivo, postula-se que tal fato deva ser tratado como coisa. Adverte Durkheim que para chegar à positividade dos fatos sociais é preciso que o Sociólogo, ao realizar suas pesquisas, leve em conta uma série de regras que o libertem do ponto de vista subjetivo por ele contraído através de sua vivência em sociedade. A mais substantiva dessas regras consiste em “afastar sistematicamente todas as prenoções” [5] . No segundo caso, onde o social não é tido como fenômeno objetivo, a subjetividade é pensada como inerente ao próprio fenômeno, uma vez que deriva da subjetividade dos atores sociais que, ao interagirem, produzem-no. Weber propõe a construção de tipos ideais como pré-requisito necessário para que se possa, a partir deles, tentar elaborar conhecimento científico de fenômeno intrinsecamente subjetivo. Coerente com tal postulado, Weber define à Sociologia como ciência que “se afana por encontrar reglas generales del acaecer” [6] .

Para aumentar o dissenso, compare-se, com os postulados dos clássicos citados, os de um terceiro: Karl Marx. Para aumentar o dissenso, repetimos, pois Marx também constrói o social por ângulo peculiar, epistemologicamente bastante diferenciado de Weber ou de Durkheim. De uma forma sintética podemos dizer que Marx “pensa” o social como totalidade estruturada composta por dois níveis: a infra-estrutura (econômica) e a superestrutura (política e ideológica). Para Marx, a totalidade social (modo de produção) é regida por leis dialéticas objetivas (como por exemplo, as derivadas das contradições entre as forças produtivas e as relações de produção), determinada (em última instância) pela infra-estrutura e movida, concretamente, pelas lutas de classes [7] .

Afora a diferente forma de construir o objeto de estudo e as disparidades metodológicas, Marx, Weber e Durkheim, têm a afastá-los distintos part-pris políticos-ideológicos. Conjunto de fatores esses que, associados, conduzem a que as explicações formuladas por eles sobre o mesmo fenômeno geral (capitalismo) sejam excludentes, pelo menos se pensadas ao nível formal abstrato.

Vale observar que os autores citados, considerados clássicos maiores, tornaram-se paradigmáticos da produção sociológica, vindo a se constituírem em escolas de pensamento e, pelas mais diversas razões (metodológicas, ideológicas, “práticas políticas”, etc.), foram retomadas por discípulos e seguidores a partir de prismas específicos e interpretados de formas diversificadas, surgindo, em decorrência, múltiplas ortodoxias e heterodoxias.

Lênin e Kautsky trocaram insultos em defesa da ortodoxia marxista. Posteriormente Lukács, Gramsci e Althusser seriam apresentados – em conjunturas específicas – como os “verdadeiros continuadores” do chamado materialismo dialético. Houve dia em que, o hoje “carrancudo” Yossef Stalin, era o “guardião” de tal ortodoxia, com plenos poderes para interpretar o “verdadeiro Marx” e exorcizar “reacionários”, “reformistas”, “revisionistas”, “anarquistas”, “heréticos”, “cientistas sociais” e demais “pensadores burgueses”. O que agora é ortodoxo pode ter sido o heterodoxo de ontem, o que agora é “interpretado” como verdadeiro pode ter sido o falso da véspera e vice-versa. Para agravar a questão, tornando mais dissensuais ortodoxos e heterodoxos, cada nova interpretação ou revisão funda, ela mesma, novos seguidores: ortodoxos e heterodoxos.

A ortodoxia e a heterodoxia durkheimiana fixou-se na França e embora os embates entre os seus seguidores não sejam tão acalorados como os entre estudiosos de orientação marxista, o consenso também está longe de reinar. Entre os “seguidores” mais imediatos de Durkheim destacaram-se: Marcel Mauss, Paul Fauconet, Maurice Halbachs e Celestian Bouglé. Todos eles fizeram modificações substantivas no pensamento do mestre, adaptando-o às especificidades de suas linhas de investigações. Mauss dedicou-se preferencialmente ao estudo de questões antropológicas e religiosas. Fauconet dedicou-se a Sociologia Jurídica, Halbachs à economia. Celestian Bouglé é nas palavras de José Medicina Echavarría:

“... quizá el representante más conocido y popular de toda la escuela. Entre la diversidad se sus obras conviene destacar la dedicada al estudio de las ideas igualitarias en la que precisa las condiciones sociales que son necesarias para el nacimiento éstas, mostrando su correlación con una estructura determinada de la sociedad occidental” [8] .

Entre os durkheimianos de “primeiro momento” o mais heterodoxo foi Lucien Bruhl que, ao contrário do mestre, pensou haver uma ruptura entre a “mentalidade” lógica do homem moderno e a “pré-lógica” do homem primitivo [9] .

O weberianismo encontrou sua melhor morada na Sociologia Norte-Americana desde que Talcott Parsons após estudar na Alemanha regressou aos estados Unidos e, na década de trinta, traduziu Wirtschat und Gesellschaft para o inglês. Desde então, incontáveis são os Sociólogos norte-Americanos que, influenciados pela obra de Weber, desenvolveram-na em direções díspares, colocando-a contra Marx ou utilizando-a de forma “funcionalista”, fazendo surgir polêmicas e contraditórias seitas de ortodoxos e heterodoxos.

Os clássicos maiores foram ainda objeto de muitos outros usos. Houve aqueles que, no afã de construir uma “Sociologia mais bem acabada”, fundiram clássicos ou fundiram-nos com outras escolas e autores. O citado Parsons, propondo-se a construir a “grande teoria” (funcional-estrutural) fundiu Weber, Durkheim, Pareto e outros. Com a pressa com que o autor de The Stucture of Social Action entrou e saiu das vitrines sociológicas, parece que o resultado de “grande teoria” – como diagnosticaria Wright Mills, em fins dos anos cinqüenta – foi um grande malogro que, como legado principal, deixou um maior fracionamento do já fragmentado saber sociológico [10] . Houve, também, heterodoxos que tentaram juntar Marx com Freud (Marcuse, Eric Fromm), ou que tentaram juntar Marx com a filosofia existencialista (Sartre); ou quem tentasse juntar Weber e o existencialismo (Karl Jasper) ou colocá-lo – ao contrário da regra geral – em continuidade com Marx (Joseph Gabel). Antes do advento do Nazismo, Hans Freyer, professor da Universidade de Leipzig, pela fusão de Marx e Weber e outros cientistas sociais e filósofos alemães, postulou um novo objeto de estudo para a Sociologia, definindo-a como “ciência da realidade” [11] . Pouco depois, Lévi-Strauss procederia a uma “complexa simbiose” – envolvendo Marx, Durkheim, o lingüista Saussure e, entre outros, até um clássico da música erudita... (Wagner) – “plantando” as bases de uma nova escola: o estruturalismo – coqueluche das Ciências Sociais nas décadas de 60/70.

O resultado geral de tantas ortodoxias, heterodoxias, simbioses e novas escolas – aqui só consideradas de forma panorâmica e algumas das mais universalizadas – é que, a Sociologia, em fins dos anos setenta, cerca de século e meio após a sua formação, encontrava-se tão fracionada teórica e metodologicamente que fazia com que as palavras de Poincaré tivessem sentido profético: “ciência que possui mais métodos e menos resultados”.

Quanto maior o dissenso, maior a crise do saber sociológico, mormente quando confrontando com a unidade teórico-metodológico e os avanços visíveis das realizações no campo das ciências ditas naturais.

2. As especificidades da crise atual (crise geral)

Se há século e meio dissenso e crise são as características mais marcantes da maneira pela qual a Sociologia produz e reproduz teorias e explicações, que pode haver de novo na crise atual?

Ocorre que, nos anos 80, pela primeira vez, os Sociólogos começaram a duvidar do valor científico da herança teórico-metodológica deixada pelos clássicos. Um número cada vez menor destes profissionais parece prosseguir confiando na força e no vigor dos clássicos como modelos inspiradores capazes de conter potencialidade teórico-metodológica que possa ser apropriada de formas específicas, para interpretar, cientificamente, os fenômenos sociais, tendo em vista sua crescente complexidade.

Desde as origens, a Sociologia mostrou pujança nos momentos de crise social. Sem dúvida, foi tentando obter respostas para o dilema da pobreza na riqueza, colocada pela Revolução Industrial, que a Sociologia floresceu produzindo modelos explicativos tão heterogêneos quanto a lei dos três estados de Comte e as leis da dialética materialista de Marx. Foi a derrota da França na guerra franco-prussiana em 1871 que levou Durkheim a tentar dotar de método consistente a Sociologia, pensando-a como ciência positiva dos fatos sociais, julgando-a imprescindível para a reconstrução da sociedade. A Sociologia sobreviveu a duas guerras mundiais e nem mesmo o terror nazista foi suficiente para miná-la, como indica o fato de após ter sido esmagada pelo 3º Reich, ressurgir na Alemanha – no pós-guerra – em movimento fecundo como o da Escola de Frankfurt.

Dissensual, permanentemente em crise interna e paradoxalmente revigorando-se nas crises sociais, a Sociologia teve a movê-la uma espécie de última instância ideológica (nem sempre confessada) que a levava a supor que o conhecimento científico que ela produzia, seria o fundamento da (re)construção da vida social. Isso é explícito na Sociologia marxista. Weber, para além da neutralidade axiológica, deixa espaço para a “política como vocação”. Durkheim, apesar de separar rigidamente ciência e ideologia, observa: “A Sociologia não valeria uma hora de atenção senão alimentasse a esperança de aliviar os sofrimentos da humanidade” [12] .

A Sociologia que se mostrou capaz, apesar da forma contraditória com que se reproduz, de renovar-se e resistir às crises, guerras, perseguições e à própria macro-tentativa de corrompê-la, como no “Projeto Camelot” (Chile, 1965) e no “Simpático” (Colômbia, 1967), começa a vivenciar uma crise de outra natureza, ou seja: interna.

A crise geral da Sociologia – embrionária no fim da década 70 e posta em curso nos anos 80 – caracteriza-se por um reconhecimento implícito de suas dificuldades em levar a cabo o eixo central dos projetos pioneiros: conhecer / transformar. Tal crise se dá pelo embricamento – numa mesma época – de crises que, internas e paralelas, acabam por atingi-la em seu âmago. Os sociólogos suspeitam da potencialidade do legado clássico e não encontram modelos alternativos capazes de substituí-los. A comunidade sociológica parece perplexa frente a “lição dos fatos”, não sabendo como conciliar leis gerais, teorias e procedimentos metodológicos; o plano das análises macro com o das análises micro; o como explicar comportamentos inesperados, o ritmo alucinante das mudanças políticas e sociais, em suma, a realidade empírica.

Ao lado dos comportamentos inesperados, do ritmo alucinante das mudanças, da crise da sociedade e da crise do socialismo, no âmbito da teoria sociológica ocorre a crise do funcionalismo, do estruturalismo, do marxismo e de outras teorias igualmente fundamentais. Apregoa-se o fim das utopias, das ideologias e da própria história – tudo acompanhado pelo anúncio do valor supremo da economia do mercado, das fórmulas matemáticas e do saber tecnocrático.

É nessa moldura histórica, teórica e ideológica que ocorre o que estamos chamando de crise geral da Sociologia. Ela não é análoga à crise dos paradigmas no sentido em que Thomas Kuhn definiu essa, tendo por referencial as Ciências Naturais [13] . Para Kuhn, tal crise ocorre nas Ciências Naturais quando há discrepância em torno dos supostos de fundo e se “recurre a la filosofia y al debate em torno a los fundamentos” [14] . Ora, como observam Cláudio e Solange Souto:

“A Sociologia tem paradigmas (modelos) teóricos apenas em sentido lato (amplo). Em sentido estrito, rigoroso, não os tem – ou, pelo menos, não os tem ainda. Já a Física possui paradigmas ou modelos em sentido teórico rigoroso, isto é, eles são rigorosamente apresentados e rigorosamente comprovados ou comprováveis. Há, por isso, um fortíssimo consenso (concordância de idéias) em torno deles. Por exemplo, é consenso de todos, até o momento, na Física que, a construção de Einstein é um paradigma. Nada de semelhante ocorre na Sociologia: assim, Marx é um paradigma para os sociólogos marxistas e Parsons o é para os sociólogos funcionalistas seus discípulos. Mas não há um consenso de todos, em Sociologia, quanto à valia científica desses autores”. [15]

Assim sendo, a discrepância quanto aos suportes de fundo e o debate filosófico em torno dos fundamentos, está na própria base do dissenso estrutural que acompanha a história das idéias e da produção sociológica. Foi com esse sentido que Alexander escreveu: “Las condiciones descritas por Kuhn para definir la crisis del paradigma en Ciencias Naturales, son rutina en las Ciencias Sociales”. [16]

A metáfora que nos parece mais apropriada para ilustrar a crise geral da Sociologia é a do curto-circuito, pois nessa crise, não são – como quando ocorre crise dos paradigmas numa ciência natural – fundamentos amplamente aceitos e consagrados que estão sendo postos em xeque. São paradigmas historicamente dissensuais que, como um todo, estão perdendo a confiabilidade de seus próprios cultores que passaram a enfatizar, no lugar das qualidades, as impropriedades e, nas salvas de incêndio, disputam e defendem não a ortodoxia, mas a heterodoxia.

Com o objetivo de bem localizarmos a referida crise geral, faremos menção, em linhas abrangentes, a aspectos centrais dela. Deixaremos, obviamente, de tecer maiores considerações sobre a crise da sociedade pois enveredar por este caminho não só nos afastaria de nossos propósitos estratégicos como nos colocaria perante um quebra-cabeça sem saída – tal a complexidade da questão.

Envolvendo filósofos, literatos e cientistas sociais provenientes de diversos campos de conhecimento, ocorreria, em meados dos anos 60, o último grande movimento sociológico contemporâneo (sociológico aqui entendido em sentido amplo). O referido movimento teve por centro conjunto de trabalhos publicados num espaço curto de tempo por pesquisadores sediados na Ecole des Hautes Etudes (França) e ficou conhecido sob a rubrica, um tanto quanto arbitrária, de estruturalismo.

Embora incontáveis as diferenças teóricas, metodológicas e ideológicas existentes entre os pesquisadores envolvidos, o movimento teve a unificá-lo o primado da estrutura e, conseqüentemente, a “certeza” de que as Ciências humanas e Sociais abandonariam, definitivamente, as preocupações com o papel exercido pelo indivíduo nas transformações sociais. O anti-humanismo funcionava como pano de fundo que perpassava e unificava démarches tão distintas que iam do marxismo de Althusser ao “heideggerismo” de Derrida. Além dos citados, outras figuras de proa do movimento – Foucault, Bourdieu, Lacan, Lévi-Strauss, etc. – frisaram a tese de morte do homem como sujeito da história.

“Les Fins de L’Homme é o título de comunicação apresentada por Derrida em Congresso em New York. Em linguagem bem hermética. Derrida anunciava a ‘destituição do humanismo’, a dissipação efetiva das ‘trevas da metafísica humanista’. Similar a esta maneira de ver é a de Lacan que observa nos ECRITS: ‘o centro verdadeiro do ser humano não está mais no mesmo lugar que lhe era reservado por toda tradição humanista’. De premissa análoga parte Althusser que desde A FAVOR DE MARX voltara-se contra o humanismo, ao enfatizar a necessidade de ‘reduzir-se a cinzas o mito filosófico do homem’. Foucault é igualmente radical em seu diagnóstico. A tese da morte do homem é dominante não apenas em AS PALAVRAS E AS COISAS mas objeto de considerações constantes por parte dele, inclusive em entrevistas e artigos. Num deles, ‘L’HOMME EST-IL MORT?’ (1996), valendo-se de um paradoxo, chega a afirmar: ‘onde se fala o homem não existe mais’.” [17]

Colocações semelhantes as anteriores podem ser encontradas em Lévi-Strauss, Bourdieu e em muitos outros “estruturalistas”.

Talvez captando as contradições que levariam o estruturalismo reinante até os anos sessenta a entrar em colapso na década seguinte, Lacan escreveu: “O estruturalismo durará o que duram as rosas os simbolismos e os parnasos: uma época literária, o que não quer dizer que ela não seja fecunda”. [18]

Hoje de Lacan já quase não se fala. Os seguidores de Althusser são espécie em extinção. Idem os de Lévi-Strauss. Derrida, Foucault e Bourdieu parecem ter vida mais longa mas, em regra, são (re)apresentados deslocados da anterior rubrica consagradora: estruturalista.

Fugiria aos nossos propósitos examinar a fundo o estruturalismo ou as razões de sua meteórica ascensão e queda [19] . Interessa-nos apenas registrar que tal movimento foi o último a surgir nas Ciências Sociais que foi capaz de mobilizar o campo intelectual e, ao lado de adversários, formar legiões de seguidores, ortodoxos e heterodoxos. Seguidores que tinham por denominador comum o ponto de vista epistemológico do primado da estrutura sobre o indivíduo.

A “verdade” é que a queda do estruturalismo foi seguida por um grande vazio no cenário das Ciências Humanas e Sociais. O funcionalismo que vivera o auge no pós-guerra (1945), com o avolumar das críticas iniciadas por Wright Mills, veio sendo progressivamente desacreditado como metodologia eficaz, a ponto de, na década de 80, Alexander comentando a moderna Sociologia Norte-Americana – onde outrora o funcionalismo fora dominante – referir-se a ela, como “pós-funcionalista” [20] . Também a Sociologia de Durkheim que alicerçava trabalhos de pesquisadores de várias gerações, pari-passu a perda de prestígio do estruturalismo de Lévi-Strauss – que de Durkheim se disse “discípulo inconstante” [21] – foi sendo deixada de lado. Raros são os cientistas sociais que, atualmente, buscam sistematicamente fundamentos nas complexas ferramentas metodológicas construídas pelo autor de Les régles de la méthode sociologique. Algo de similar ocorre com a Sociologia weberiana que ao julgar pelo pouco que tem sido publicado a respeito, ao contrário da antiga pujança, parece estar caindo no ostracismo.

O marxismo como paradigma foi tipicamente aquilo que Bourdieu chamou “consenso no dissenso” [22] . Ao longo da história da Sociologia houve quem se disse marxista (ortodoxo ou heterodoxo); houve quem – a pretexto de separar o joio do trigo – se apoiou parcialmente nele e parcialmente rejeitou-o, e houve também quem se opôs radicalmente ao marxismo. O que nunca houvera, passado século da publicação do Capital, fora debate sobre metodologia das Ciências Sociais que desconhecesse as contribuições do teórico da mais valia e das lutas de classes. Na década de oitenta a tendência começou a se inverter, o marxismo de centro de controvérsias foi deixando de ser reivindicado até por número crescente de intelectuais que, faz pouco, se auto-identificavam como marxistas.

O que chamamos crise geral da Sociologia atinge o seu ápice quando, nos anos 80, a crise do marxismo se tornou aguda. Ela levou de roldão, fazendo desabar, os demais paradigmas clássicos (Weber e Durkheim) e as grandes vertentes da teoria sociológica contemporânea deles derivados, como funcionalismo e o estruturalismo. Essa última vertente, Perry Anderson (adversário contumaz do estruturalismo) considera sob um duplo aspecto: o de ter funcionado como frente teórica que fez desmoronar o materialismo histórico, havia décadas hegemônico na França; e o de não ter residido a tal desmoronamento [23] .

Foi em um contexto tipificado pelo refluxo do movimento operário no mundo ocidental e pelas reviravoltas no Leste Europeu, que o marxismo – no dizer de Alexander – foi “perdendo legitimamente moral” [24] . Se nas décadas passadas entre o macarthismo dos anos 50 e a guerra fria interrompida na “Era Gorbachev”, a literatura anticomunista e antimarxista apresentavam-se predominantemente sob forma de panfleto direitista, as principais restrições e críticas ao materialismo dialético – em meados dos anos 70 – passaram a ser feita até por renomados profissionais das Ciências Sociais outrora identificados sob a chancela genérica de marxistas. Entre os trabalhos de estudiosos traduzidos nas últimas décadas do século XX no Brasil, que se enquadram no citado0 caso, podemos, a título de ilustração, relacionar: Ultrapassando o marxismo, de Lúcio Colletti; Adeus ao proletariado, de André Gorz e A crise da crise do marxismo, do anteriormente citado Perry Anderson [25] . Entre os trabalhos de marxistas brasileiros vale destacar as críticas às formulações do marxismo ortodoxo sobre o estado de transição (ditadura do proletariado) contidas no artigo de Carlos Nelson Coutinho, “A democracia como valor universal”. Nessa mesma linha de raciocínio podemos considerar Leandro Konder que, em 1988, publicou tese de doutoramento em Filosofia intitulada “A derrota da dialética” e, em 1990, escrevendo no jornal A Tribuna da Imprensa, observou:

“Numa hora como esta, mesmo aqueles que admiram Lênin e o consideram um gênio da história política do século XX (sou um deles) devem estar preparados para redimensionar o alcance das formulações teóricas decisivas do grande líder da revolução soviética, podando eventualmente suas pretensões a universalidade. Observando, com um mínimo de espírito realista, o que se passa com os partidos comunistas no mundo inteiro, é impossível não abrir espaço para a discussão: o partido do tipo leninista não terá encerrado seu ciclo histórico de eficiência revolucionária?” [26]

Afora as autocríticas de marxistas, que além das explicitadas poderiam ser acrescidas de muitas outras, a crise do marxismo é agravada pela publicação (ou republicação) de trabalho que, provenientes de profissionais de outras orientações, provocaram polêmicas no campo intelectual. Entre os que, enquadrando-se neste caso, mais repercutiram no campo intelectual, destacamos: O destino do totalitarismo do filósofo anarquista Cornelius Castoriadis e As Origens do Totalitarismo da historiadora “liberal” Hannah Arendt.

Como, aqui, nosso objetivo estratégico é o de juntar elementos que nos permita relacionar “crise do marxismo” e “crise da Sociologia”, desnecessário entrar no mérito e examinar o conteúdo de quaisquer dos trabalhos – de distintas orientações – anteriormente arrolados. Trata-se de trabalhos muito desiguais quanto a objetivos, consistência e relevância teórica. Como um todo, apontam para a crise do marxismo, questão que nos interessa – pela razão exposta – por em evidência.

Finalmente, “pari-passu” à falência do chamado socialismo real e questionando o marxismo por sua teleologia e não por seu instrumental analítico, ressurgiram as teses do fim das ideologias e a da morte das utopias. Grifamos ressurgiram, pois a tese do fim das ideologias, e já tendo por alvo o marxismo, não é nova, dela tratara, em grosso volume nos anos 60, o sociólogo Daniel Bell [27] . Igualmente, a tese da morte das utopias não é novidade. A Ciência Política costuma diferenciar-se, enquanto “saber”, do utopismo que vê presente em escritos de Platão, Thomas Morus e Thomaso Campanella. O próprio marxismo, agora afastado como utópico, valera-se do mesmo expediente para impor-se como vertente científica do socialismo a outras construções socialistas (ditas por Engels utópicas) como as de Owen, Fourier e Saint-Simon.

A última estocada no marxismo, a valer-se do filão fim das ideologias / morte das utopias, foi desferida por Francis Fukuyama – vice-diretor da “Assessoria de Planejamento Político do Departamento de Defesa do Estado Norte-Americano”. Fukyuama, em polêmico artigo originalmente publicado nos Estados Unidos, em 1989, na Revista “The National Interest”, e logo em seguida republicado em vários países, adiciona um terceiro ingrediente ao binômio fim das ideologias /morte das utopias: O fim da história, que vem a ser o título do artigo em questão [28] .

O exemplo dos outros dois, o tema do fim da história não é novo, pois como observa: “Ele foi propagado pela primeira vez pelo filósofo alemão Hegel ao constatar a interação do que ele denominava Saber Absoluto com o Estado Prussiano”. [29]

Partindo de hipótese neo-hegeliana similar a de Agnes Heller e a de Norbert Lechner, Fukuyama advoga a tese do fim da história que, por tais versões, teria encontrado sua forma definitiva em torno da consolidação dos ideais liberal-democráticos. Em O fim da história, Fukuyama observa:

“Talvez o que estamos testemunhando não seja exatamente a passagem de um período determinado da história do pós-guerra, mas o ponto final da evolução ideológica da humanidade e o surgimento da democracia liberal ocidental como forma definitiva de governo humano”. [30]

Ao responder aos críticos, Fukuyama torna muito claro seu ponto de vista:

“O total e manifesto fracasso do comunismo nos força a perguntar se toda a experiência de Marx não foi um desvio de cento e cinqüenta anos e se precisamos reexaminar se Hegel não estava de fato com a razão ao ver o fim da história nos Estados liberal-democráticos das revoluções francesa e americana (...) O que vale para o comunismo também é verdade para outras ideologias. No âmago do meu raciocínio, está a observação de que no mundo se desenvolveu um notável consenso com respeito à legitimidade e viabilidade da democracia liberal. Este consenso ideológico não é completamente universal nem automático, mas existe num grau manifestamente mais alto do que em qualquer época do século passado (...) Para refutar minha hipótese, então, não é suficiente sugerir que o futuro nos reserve grandes e importantes acontecimentos. E preciso mostrar que esses acontecimentos foram movidos por uma idéia sistemática de justiça política e social que afirmava suplantar o liberalismo. Uma guerra nuclear entre a Índia e o Paquistão, por mais horrível que isso fosse para esses países, não modifica o raciocínio, a não ser que de alguma forma nos obrigasse a reexaminar os princípios básicos de nossa ordem social”. [31]

Ciência dissensual por excelência, não é a debilitação do paradigma marxista (em si) que provoca o curto-circuito que supomos no cerne da crise geral da Sociologia, pois tanto a teoria clássica quanto a contemporânea, argumentamos, vinham paulatinamente perdendo a confiabilidade da comunidade sociológica. O que o aguçamento da crise do marxismo aflora, é que as hipóteses vigas-mestre das explicações sociológicas, que em função dos próprios objetivos da Ciência, historicamente concentraram-se mais no exame dos processos e das estruturas do que no papel do indivíduo, tornaram-se insuficiente para açambarcar a complexidade das sociedades e conseqüentemente, de explicá-las de forma cientificamente satisfatória. As teorias centradas nas estruturas atingiram seu ponto culminante, na época atual, com o “consenso” momentaneamente gerado pela tese “morte do homem”, posta na ordem do dia das suas décadas anteriores pelo estruturalismo. Tais teorias, já enfraquecidas entraram em colapso com o agravamento da crise do marxismo que apesar de abalada, permaneceu como último baluarte (a cair) das sociologias de longo alcance, centradas em visões de processo e em explicações estruturais.

Paradoxal (apesar de tantas conversões, principalmente de ex-marxistas) que o weberianismo não tinha sido agarrado – em grande escala – como tábua de salvação da teoria sociológica, numa conjuntura histórica tipificada por transformações inesperadas e comportamentos desconcertantes [32] . Ocorre que mesmo no teórico que inaugura a ação social como objeto de estudo sociológico, existem contradições entre suas formas de colocar a relação indivíduo / sociedade. Como conciliar o Weber que faz da subjetividade do ator o leitmotiv de uma história não determinada, com o Weber que postula a racionalidade ocidental e, em decorrência, a burocratização crescente e a dominação racional como traços culturais constantes, a moldar o devir? Como conciliar a Ética Protestante..., o Weber que localiza um ethos (capitalista) precedendo a formação do capitalismo, com o Weber que assevera ser o homem, sujeito, e, portanto, criador e construtor de seu próprio destino não “pré-moldado? Não será igualmente paradoxal (e sintomático da crise geral da Sociologia) o fato de que o estruturalismo que advogava a morte do homem tenha começado a ser enterrado pelos gritos dele? O fato de que os “Deuses da Sorbone”, que em nome das estruturas ironizavam o sujeito descartando o papel dele, tivessem reconhecido seus próprios alunos entre os que bradavam nas ruas de Paris, no célebre maio de 1968, contra as estruturas e a favor das liberdades individuais? [33] Enfim, não será paradoxal que a tese da morte do homem, enquanto sujeito, tenha apontado para a existência dele? Não será sintomático da referida crise, o fato dos trabalhadores, ao invés de adquirirem consciência de seus próprios interesses, consciência de classe – o que segundo os autores do Manifesto do Partido Comunista deveria ocorrer à medida que o desenvolvimento das relações de produção capitalista completasse o ciclo da separação dos produtores dos meios de produção – pareçam estar cada vez mais se afastando dela? Ou o fato de os proletários ao invés de unirem-se para cumprir a “missão histórica” de que fala o Marx da juventude, tenham restabelecido a propriedade privada, onde ela, mesmo que de cima para baixo, havia sido socializada? Na mesma linha de raciocínio, não coloca em questão aspectos centrais da teoria sociológica clássica o fato de que a consciência coletiva de Durkheim, irredutível às suas manifestações individuais, não consiga detê-las e que isto não provoque anomia? Quanto a Parsons, quanto à “Grande Teoria”, até seus adeptos reconheceram que a complexidade do social extrapola, em muito, os limites do fixado pelo jogo dos sistemas e subsistemas – pelo menos nos termos tradicionalmente propostos pelo chamado método funcional-estrutural.

Operando com paradigmas dissensuais postos em xeque até pelos adeptos de cada um deles, os Sociólogos no limiar do novo milênio – refletindo o clima geral – parecem aturdidos, sem saber em que se apoiar para elaborar explicações científicas plausíveis para realidades continuamente mais surpreendentes e inesperadas. Para os Sociólogos de orientação marxista, a situação é mais crítica ainda. Ela é comparável à dos espectadores de um “bang-bang” que, de repente, - estupefatos – descobrem que andaram torcendo pelo lado errado, e que o bandido (o dito explorador capitalista) era o mocinho da história: a economia de mercado.

3. Conclusões

A premissa da qual partimos foi de que o dissenso (teórico-metodológico) e, conseqüentemente, a crise - discordância quanto a objetivos, fundamentos e centros de preocupações - é inerente e acompanha a história da produção de instrumentos e o da pesquisa no campo sociológico. A hipótese que nos serviu de fio condutor foi a de que a crise atualmente vivida pela Sociologia possui peculiaridades que a configuram como situação de crise ímpar e de dimensões sem precedentes: trata-se de uma crise geral. Essa não é similar ao que Thomas Kuhn, referindo-se às Ciências Naturais, chamou de crise dos paradigmas como, por exemplo, a crise ocorrida na Física em 1905, em função do advento da teoria da relatividade, de Einstein. Teoria que tornava obsoletos os paradigmas anteriores e viria a própria “relatividade” a se constituir em novo e atual eixo paradigmático da citada Ciência. Diversamente do que acontece na Física, a crise da Sociologia eclode quando suas principais teorias paradigmáticas (dissensuais) são postas em dúvida por número substantivo de discípulos e seguidores de cada uma delas, sem que novos centros de referências se tornem hegemônicos.

Até a década de 70 do século passado a defesa da ortodoxia e a contraposição de argumentos de partidários de escolas diferenciadas tipificava o modo de produção e de reprodução do saber sociológico. Na situação de “crise geral” vão sumindo os ortodoxos das grandes escolas do pensamento e escasseiam os debates entre os defensores de escolas diferentes no sentido de demonstrar que o método a que se filiam é superior aos demais. Se algum consenso passou a existir foi que tanto a teoria clássica quanto a contemporânea devem passar por radicais revisões. Foi no âmago da “crise geral” (década de 80) que Alexander observou:

“En la década actual se ha iniciado una fase asombrosamente diferente de argumentación teórica (...) El nuevo movimiento teórico de la Sociología se hace patente mediante el estudio del revisionismo surgido en el senso de las tradiciones micro y macro”. [34]

Redimensionar a relação indivíduo e sociedade, vincular as teorias sobre ação e estrutura, desenvolver estudos empíricos que possibilitem diluir as rígidas linhas divisórias existentes entre o plano das análises macro e micro, repensar estrutura e processo, para melhor poder (re)introduzir a papel do ator; eis alguns dos rasgos comuns aos diversos revisionismos nascentes. Revisionismos dissensuais que funcionam como um dos principais eixos – senão o principal – em torno dos quais (re)articulam-se as a\tuais preocupações da comunidade sociológica. Revisionismos que se fazem presentes nos grandes centros produtores e exportadores de teorias, como por exemplo, Paris, que após a queda dos referenciais marxistas e estruturalistas tornou-se, no dizer de Perry Anderson: “capital da reação intelectual européia” [35] . Inversamente ao revisionismo dominante na França, surge, nos Estados Unidos, uma nova esquerda pretendendo retomar o marxismo por ângulo original. Nesse caso enquadram-se os trabalhos de Adam Przeworski (Marxismo e escolha racional) e o de outros defensores do individualismo metodológico, tais como: Andrew Levine, Elliot Sober e John Elster. Para estes, trata-se de combater as tendências holísticas colocando a “elaboração de microfundamentos no centro da agenda da teoria e da pesquisa marxista” [36] . Igualmente de procedência norte-americana e revisionista, priorizando o funcionalismo, é a proposta de um novo movimento teórico, feita, pelo já anteriormente mencionado, Jefrrey C. Alexander.

Julgamos que colocar microfundamentos no centro da agenda, não apenas da teoria marxista, mas no da própria teoria sociológica (considerada como um todo), é temerário, uma vez que a introdução de tais microfundamentos pode conduzir a uma maior perda da identidade da Sociologia enquanto Ciência, pela fusão (ou confusão) de seu objeto de estudo (coletivo) com o de saberes como a Psicanálise, centrado no estudo do “eu”.

Se a Sociologia feita na crise evidencia o fato das tendências revisionistas estarem suplantando em grande escala as ortodoxas, a crise da Sociologia (como foi argumentado) está no fato de antigos ortodoxos de diferentes escolas, reconhecerem que teorias e instrumentos analíticos delas derivadas tornaram-se insuficientes para açambarcar a complexidade das sociedades contemporânea e, conseqüentemente, de explicá-las de formas cientificamente satisfatórias. É, portanto, o princípio da identidade, o princípio aristotélico da correspondência entre o ser e o pensar que está na base da questão. As teorias clássicas, e contemporâneas, desenvolveram-se tendo o citado princípio aristotélico como centro de preocupações. Durkheim, ao pretender concretamente fundar uma Ciência Positiva da sociedade, procurou demonstrar que os fatos sociais existiam como realidade objetiva, sujeita a leis, bastando, para captá-las, que o Sociológico tomasse conjunto de preocupações que o permitisse fugir do império das noções vulgares. Weber, distinguindo os fenômenos naturais dos sociais, asseverou ser explicativo o método das Ciências que tratam da natureza, e compreensivo o método das Ciências que tratam da cultura. Para controlar a subjetividade que postula inerente a ação social, e tornar a análise sociológica mais próxima da realidade empírica, propôs a construção de tipos ideais. O eclético Parsons julgou ser possível aprisionar a natureza da coisa social pela descrição dos processos e mecanismos que julgava, consolidavam sistemas e subsistemas, dando-lhes configuração funcional/estrutural e provocando equilíbrio homeostático. Os estruturalistas anularam o sujeito acreditando atingir a “essência do real” pela decodificação de suas estruturas. Marx, admitindo estar na prática a comprovação das teorias, escreveu:

“A questão de saber se a verdade objetiva resulta do pensamento humano não é uma questão teórica, mas sim uma questão prática. Na prática, o homem deve demonstrar a verdade, quer dizer a realidade e o poder, a materialidade de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou a não-realidade do pensamento – isolada da prática – é uma questão puramente escolástica”. [37]

Em 1980, André Gorz escreveu nas primeiras linhas da Introdução de Adeus ao proletariado:

“O marxismo está em crise porque há uma crise do movimento operário. Rompeu-se, ao longo dos últimos vinte anos, o fio entre desenvolvimento das forças produtivas e desenvolvimento das contradições de classe”. [38]

Afirmações similares às que Gorz faz, questionando o princípio de identidade no marxismo, podem ser encontradas em literatura sociológica partinente, tendo por alvo outras escolas e autores. A crise geral da Sociologia, como está insinuada dá-se, sobretudo, pelo divórcio entre as diversas teorias explicativas e as realidades existentes cuja crescente complexidade elas não conseguem açambarcar.

Contraditório que, à mesma época da crise geral da Sociologia, provocada pelo questionamento quanto a ser possível explicar (ou compreender) o real a partir dos principais paradigmas que ela possui, aflorem propostas que, afirmando terem os recentes acontecimentos do leste-europeu “demonstrando” ser o socialismo inviável, a lei da oferta e da procura seja aceita como paradigmática. Nesse sentido, as teorias contidas no Fim da História, de Francis Fukuyama, respaldadas por discursos de várias procedências e dita em consonância com tendências internacionais dominantes (pensadas liberais e democráticas), funcionam como caso limite de um desconcertante modelo ilustrativo das modas em voga, pois as ditas teses fundam-se em conjecturas e suposições não possuindo embasamento empírico consistente. As teses de Fukuyama estão muito próximas (de certo modo) das que falam em ‘democracia como valor universal’. Pelas primeiras, basta pressentir-se tendências liberais para concluir-se que a economia de mercado (eufemismo modernamente utilizado em contraposição a modo de produção capitalista), ganhará configuração histórica universalizada e definitiva. Digno de registro é o fato de que, “pressentindo” tendências opostas às de Fukuyama, pois vivendo a conjuntura européia da década de trinta, Manoilesco, clássico maldito da Ciência Política, asseverou:

“Le libéralisme est, de nos jours, la victime préférée, sur laquelle s´acharnent sans pitié tous les auteurs politiques. Jeter une pierre de plus contre le régime liberal, c’est manquer en même temps d’originalité et delégance... Car on tire pas sur les mourants”. [39]

Pela Segunda, a tese dos que falam em democracia como valor universal, basta que se nomeie uma estrutura social totalitária e outra democrática para que elas, numa espécie de “abracadabra” (conduzidas por varinhas de condão ideológicas) ganhem a forma nomeada, sem que seja necessário trabalhar os conceitos de democracia ou examiná-las. A este respeito, Agustin Cueva observou:

“Así como el tema recurrente de los anos 50 y 60 fue el del desarrollo, el asunto privilegiado en la actualidad es el de la democracia; con una similitud más: tal como en los anos 50 parecía un crimen, a la par ético y teórico, preguntar de que tipo de desarrollo se estaba hablando (!Quien no sabia que el desarrollo era el desarrollo, puro y sobretodo sin calificativos!), asimismo ahora parece de mal gusto, por decidir lo menos, preguntar hacia que tipo de democracia se esta exactamente avanzando”. [40]

Quanto às leis do mercado, as tais “leis naturais” da oferta e da procura, julgamos que possuem tanto valor para a Sociologia quanto outras leis naturais que a pesquisa científica enterrou (após a ciência ter-se apoiado nelas, tomando-as por paradigmáticas). Entre estas destacamos: a lei dos três estados, de Comte; a das lutas de raças. de Gumplovitcz; a da seleção natural, do chamado darwinismo social; as do monismo, de Haeckel e as do evolucionismo historicista, do marxismo vulgar.

Sobre a lei da oferta e da procura, com propriedade, Durkheim observou em Les Régles de la méthode sociologique:

“Veja-se por exemplo, a famosa lei da oferta e da procura. Nunca foi indutivamente estabelecida como expressão de uma realidade econômica. Nunca nenhuma experiência, nenhuma comparação metódica, foi instituída para se estabelecer que, efetivamente, é segundo esta lei que se processam as relações econômicas. Tudo o que se pôde fazer, tudo o que se fez, foi demonstrar dialeticamente que os indivíduos assim devem proceder, se compreenderem bem quais são os seus interesses; e ainda que qualquer outra maneira de agir lhes seria perniciosa, implicando verdadeira aberração lógica por parte daqueles que a ela se prestassem. É muito lógico que as indústrias mais produtivas sejam as mais procuradas; que os detentores dos produtos mais procurados e mais raros os vendem a preços mais elevados. Mas esta necessidade inteiramente lógica em nada se parece com a necessidade apresentada pelas verdadeiras leis da natureza. Estas exprimem as relações segundo as quais os fatos realmente se encadeiam e”. não”. a maneira pela qual seria melhor que se encadeassem”. [41]

Durkheim ensina, ainda, nas Regras... que: “tratar fenômenos como coisas, é tratá-los na qualidade de data que constituem o ponto de partida da Ciência” (43) –

(G. A.).

São pontos de partida de tal envergadura que podem fazer dos atuais esforços revisionistas, fecundos. Repensar os fundamentos da Sociologia, recolocar – sob novas bases – o problema do ator, aprofundar – pela realização de pesquisas empíricas, a relação micro/macro – são algumas das tarefas urgentes e em curso. Repudiar os clássicos maiores e os contemporâneos, trocando as preocupações com o social que fazem a Sociologia Ciência específica, por tendências psicologizantes ou fazê-la flutuar sobre as ondas das modas ideológicas acatando discursos partidários e do senso comum, imaginariamente alicerçados no imperialismo dos fatos, é desprovê-la de sentido, conteúdo e significado social.

O tautológico da crise geral da Sociologia é que ela é retomada pelas tendências revisionistas em curso – diferentemente do que ocorre na crise dos paradigmas da Física – a partir dos mesmos paradigmas questionados, e não de novos. E é salutar que seja assim. Estará o positivismo durkheimiano defasado ou terá sido preterido sem que suas potencialidades tivessem sido levadas às últimas conseqüências? Terão se esgotado as possibilidades da Sociologia compreensiva fundada por Weber? Terão perdido a funcionalidade os tipos ideais, sendo inútil a construção de novos ou a recorrência aos existentes para a análise de situações concretas? Terá o estruturalismo sucumbido no lugar do sujeito? Não terão mais nada a dizer autores que até bem pouco eram centro dos debates contemporâneos como Levi-Strauss e Althusser? Serão apenas descartáveis os elementos da teoria da ação social parsoniana? O materialismo dialético pode ser menosprezado pelo malogro do modelo estalinista? Ou será necessário, para fazê-lo, demonstrar serem incongruentes os postulados de Marx, como por exemplo, o da existência de contradição material insolúvel – nos limites do modo de produção capitalista – entre a produção (social) e a apropriação (privada); o capital e o trabalho; a riqueza e a pobreza?

A crise (em função dos paradigmas dissensuais) está na essência do modo pelo qual a Sociologia produz e reproduz seu conhecimento; a crise geral é produto da confluência, numa mesma conjuntura, de problemas historicamente engendrados. Crise geral, no caso, não é sinônimo de fraqueza, pois localizar problemas, apontar para eles, é criar condições para resolvê-los e superá-los.


NOTAS

[1] Segundo informa Oscar Terán na Introdução à coletânea de textos de José Ingenieros por ele organizada (O. Terán. “Introducción” a J. Ingenieros, Pensar la nación, pág. 13).

[2] Citado por Florestan Fernandes. Fundamentos empíricos da explicação sociológica, pág. XVIII.

[3] A. Coulson, Margaret e Riddell, David S. Introdução crítica à sociologia, pág. 11.

[4] Durkheim, Emile. As regras do método sociológico. Especialmente capítulo 1 (“O que é fato social”), págs. 1 a 12.

[5] Idem. Ididem, pág. 29.

[6] Max Weber. Economia e sociedad, pág. 18.

[7] Ver Karl Marx. Prefácio. Contribuição à crítica da economia política, pág. 90.

[8] JOSÉ Medina Echavarría. Panorama de la sociologia contemporánea, pág. 90.

[9] Ver, Lucien Levy-Bruhl. La Mentalité primitive, 1921.

[10] Sobre as críticas e o diagnóstico de Wright Mills, ver: A imaginação sociológica; capítulo II (“A grande teoria”), págs. 33 a 58.

[11] Sobre o novo objeto de estudo proposto por Freyer, ver: Hans Freyer. La Sociologia ciencia de la realidad.. Pág. 346.

[12] Citado por G. Mosca e G. Bouthoul. História das doutrinas políticas, pág. 323. Ver também E. Durkheim, opus cit., cap. III.

[13] Thomas Kuhm. A estrutura das revoluções científicas, 1985.

[14] Citado por Jeffrey C. Alexander. “El neuvo movimento teórico”. In, Estudios, no. 17, pág. 264.

[15] Cláudio Souto E Solange Souto. A explicação sociológica: uma introdução à sociologia, pág. 11.

[16] Jeffrey C. Alexander. Art. citado, pág. 264.

[17] Aluízio Alves Filho. “Estruturalismo e a Revolta estudantil”. In, Suplemento cultural do Estado de São Paulo, 08/10/88.

[18] Jacques Lacan. Citação extraída da capa interna da coletânea organizada por Eduardo Prado Coelho: Estruturalismo antologia de textos teóricos.

[19] Exame detalhado da “ascensão e queda” do estruturalismo encontra-se em François Dosse. História do estruturalismo, vol. I e II.

[20] Jefrrey C. Alexander. Art. citado, pág. 259.

[21] CLAUDE Lévi-Strauss. Antropologia estrutural (Dedicatória).

[22] Sobre “consenso no dissenso” ver: Pierre Bourdieu. A economia das trocas simbólicas, pág. 207.

[23] Ver: Perry Anderson. A crise da crise do marxismo, pág. 30.

[24] Jeffry C. Alexander. Art. citado, pág. 290.

[25] Destacamos apenas trabalhos publicados em forma de livro e de ampla circulação.

[26] Leandro Konder. “Questionando os rumos do Socialismo”. In Tribuna da Imprensa (Tribuna Bis); 10/01/990.

[27] Ver: Daniel Bell. El fin de las ideologias.

[28] No Brasil, o artigo de Francis fukuyama, “O fim da história”, que originalmente tinha 16 páginas, foi condensado e publicado pelo caderno Idéias / Ensaios, Jornal do Brasil, edição de 13/08/1989.

[29] Wilson Coutinho. “A morte possível da História”. In, caderno Idéias / Ensaios, Jornal do Brasil. 17/12/1989.

[30] Francis Fukuyama. Art. Citado, 13/08/1989.

[31] “ “ .“Resposta aos meus Críticos”. In, caderno Idéias / Ensaios, Jornal do Brasil. 17/12/1989.

[32] Usamos conversão com o sentido sociológico que Peter Berger atribui ao termo. (Peter Berger. Perspectivas sociológicas. Ver capítulo III).

[33] Sobre o assunto, Ferry e Renaut escreveram: “...um dos leitmotivs de maio não teria sido a defesa do homem contra o sistema? Lemos de novo estes estranhos documentos da época, nos primeiros panfletos aparecidos no curso dos acontecimentos é constante, aí, a insistência em denunciar a engrenagem do sistema para colocar em questão a transformação dos indivíduos em peças que assegurem o funcionamento da sociedade, e se a revolução aí toma freqüentemente a forma da desintegração (da Universidade, da Sociedade) é certamente no sentido de que, para o revolucionário, se trata não só de fazer explodir o mundo antigo, mas também de recusar deixar-se integrar naquilo que negaria sua individualidade” (Luc Ferry e Alain Renaut. Pensamento 68, págs. 15 e 16).

[34] Jeffrey C. Alexander. art. citado, pág. 291.

[35] Perry Anderson. opus. cit., pág. 38.

[36] Ver: Andrew Levine, e outros. “Marxismo e individualismo metodológico”. In, Revista brasileira de ciências sociais. N. 11. 1985, pág. 297.

[37] Karl Marx. Economia política e filosofia, págs. 133 e 134.

[38] André Gorz. Adeus ao proletariado – para além do Socialismo, pág. 11.

[39] Mihail Manoilesco. Le parti unique, pág. 18.

[40] Agustin Cueva. Las democracias restringidas de América Latina, pág. 11.

[41] Émile Durkheim. Opus. Citada, pág. 24.


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Resumo: Este artigo tem por propósito refletir sobre a propalada tese da crise dos paradigmas nas Ciências Sociais, tendo por centro o período mais agudo da referida crise: as décadas de 80 e 90.


Palavras-chave: Sociologia, crise, paradigmas.


* O autor é professor do Programa de Mestrado em Ciência Política do IFCS/UFRJ.

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